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ETERNO ENAMORADO

ETERNO ENAMORADO

11
Fev09

7-O POEMA

Lumife

 

 

O poema me levará no tempo


Quando eu já não for eu


E passarei sozinha


Entre as mãos de quem lê


.


O poema alguém o dirá


Às searas


.


Sua passagem se confundirá


Como rumor do mar com o passar do vento


.


O poema habitará


O espaço mais concreto e mais atento


.


No ar claro nas tardes transparentes


Suas sílabas redondas


.


(Ó antigas ó longas


Eternas tardes lisas)


.


Mesmo que eu morra o poema encontrará


Uma praia onde quebrar as suas ondas


.


E entre quatro paredes densas


De funda e devorada solidão


Alguém seu próprio ser confundirá


Com o poema no tempo


 

Sophia M. B. Andresen

07
Fev09

6-DESPERTA-ME DE NOITE

Lumife

amore0-Maria Bonita.jpg

 

 

DESPERTA-ME DE NOITE

O TEU DESEJO

NA VAGA DOS TEUS DEDOS

COM QUE VERGAS

O SONO EM QUE ME DEITO

É REDE A TUA LINGUA

EM SUA TEIA

É VICIO AS PALAVRAS

COM QUE FALAS

.

A TRÉGUA

A ENTREGA

O DISFARCE

.

E LEMBRAS OS MEUS OMBROS

DOCEMENTE

NA DOBRA DO LENÇOL QUE DESFAZES

.

DESPERTA-ME DE NOITE

COM O TEU CORPO

TIRAS-ME DO SONO

ONDE RESVALO

.

E EU POUCO A POUCO

VOU REPELINDO A NOITE

E TU DENTRO DE MIM

VAI DESCOBRINDO VALES.

 

(Maria Teresa Horta)

 

30
Jan09

5-SONETO DE AMOR

Lumife

 amor

No meu poema ficaste
de pernas para
o ar
(mas também eu
já estive tantas vezes)

Por entre versos vejo-te as mãos
no chão
do meu poema
e os pés tocando o título
(a haver quando eu
quiser)

Enquanto o meu desejo assim serás:
incómodo estatuto:
preciso de escrever-te
do avesso
para te amar em excesso


ANA LUISA AMARAL (n. 1956)

25
Jan09

4-INTIMIDADE

Lumife

Inocência

 

 

 

Quando, sorrindo, vais passando, e toda

Essa gente te mira cobiçosa,

Es bela - e se te não comparo a rosa,

E que a rosa, bem vês, passou de moda...


 


Anda-me as vezes a cabeça a roda,

Atras de ti também, flor caprichosa!

Nem pode haver, na multidão ruidosa,

Coisa mais linda, mais absurda e doida.


 


Mas é na intimidade e no segredo,

Quando tu coras e sorris a medo,

Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!


 


E não te quero nunca tanto (ouve isto)

Como quando por ti, por mim, por Cristo, Juras

- mentindo - que me tens amor...



ANTERO DO QUENTAL

 

 

Foto Ricardo Sobral - Olhares

20
Jan09

3-ODE PAGÃ

Lumife

a divagar no vazio.... 

Viver! - O corpo nu, a saltar, a correr
Numa praia deserta, ou rolando na areia,
Rolando, até ao mar... (que importa o que a alma
anseia?)
Isto sim, é viver!

 

O Paraíso é nosso e está na terra. Nós
É que temos o olhar velado de incerteza;
E julgamos ouvir a voz da Natureza
Ouvindo a nossa voz.

 

Ilusões! O triunfo, o amor, a poesia...
Não merecem, sequer, um dia à beira-mar
Vivido plenamente, - a sorver, a beijar
O vento e a maresia.

 

Viver é estar assim, a fronte ao céu erguida,
Os membros livres, as narinas dilatadas;
Com toda a Natureza, em espírito, as mãos dadas
- O resto não é vida.

 

Que venha, pois, a brisa e me trespasse a pele,
Para melhor poder compreendê-Ia e amá-Ia!
Que a voz do mar me chame e ouvindo a sua fala,
Eu vá e seja dele!

 

Que o Sol penetre bem na minha carne e a deixe
Queimada para sempre! As ondas, uma a uma,
Rebentem no meu corpo e eu fique, ébrio de espuma,
Contente como um peixe!

 

 

Carlos Queiroz

 

 

Foto de José Ferreira-Olhares

17
Jan09

2-HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Lumife

 

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

 


 

 

 

Alexandre O'Neill

16
Jan09

1-ADORMECIDA

Lumife

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
"Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."

Castro Alves

18
Ago07

Saudade é...

Lumife

foto de Jean Jacques André


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saudade é querer viver o já vivido,
Querer amar e ter amado já…
Sentindo o coração anoitecido,
Querer beijar a luz que o sol lhe dá.


Saudade é ver fugir o bem perdido,
Não podendo ir com ele onde ele vá;
Ai, saudade afinal é ter nascido
Na certeza que a vida acabará!


Horizontes sem fim, novas paisagens…
Saudade é vago espelho onde as imagens
Têm vida para além da realidade.


Saudade é tudo enfim que me rodeia;
Um relevo de passos pela areia;
A morte, a vida, o amor, tudo é saudade…

 

Anrique Paço D'Arcos


 

29
Out06

...

Lumife

 

 

 

Sob o chuveiro amar

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?

 

 

(Carlos Drummond de Andrade) 

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