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ETERNO ENAMORADO

ETERNO ENAMORADO

24
Nov04

Amor Perdido

Lumife
24.bmp


.

Foi-se, enfim, o amor que luzia,


estrela cadente, no céu que prateia.


Ficou o sonho, no peito que ardia,


Fazendo rima com a lua, confidente e cheia.


.

Foram-se os risos, que o verso floria,


restando as lágrimas, rio que o passado margeia.


Não haverá mais rima, nos olhos que havia;


só a dor que é noite, sol que não clareia.


.

E naquele que parte, sem aparente agonia,


vai a terra, que outra vez se semeia,

doce jardim, florido e belo algum dia.


.

E no que fica, com a paixão que ninguém cria,


cai a chuva, no coração feroz que incendeia:


faz em cinzas, uma paixão demente que vivia.



23
Nov04

Não Digas Nada

Lumife
f511067.jpgFoto por Paulo Marques


.

Não digas nada!

Nem mesmo a verdade


Há tanta suavidade em nada se dizer

E tudo se entender -


Tudo metade


De sentir e de ver...

Não digas nada


Deixa esquecer


.

Talvez que amanhã


Em outra paisagem


Digas que foi vã


Toda essa viagem


Até onde quis


Ser quem me agrada...


Mas ali fui feliz


Não digas nada.


.

(Fernando Pessoa)

21
Nov04

Retrato Ardente

Lumife
f133120.jpgFoto por Pedro Gomes


.

Entre os teus lábios

é que a loucura acode,

desce à garganta,

invade a água.

.

No teu peito


é que o pólen do fogo


se junta à nascente,


alastra na sombra.

.


Nos teus flancos


é que a fonte começa


a ser rio de abelhas,


rumor de tigre.


.

Da cintura aos joelhos


é que a areia queima,


o sol é secreto,


cego o silêncio.

.

Deita-te comigo.


Ilumina meus vidros.


Entre lábios e lábios


toda a música é minha


.

(Eugénio de Andrade)



17
Nov04

De Tarde

Lumife
pic-nic_mostruoso.gif


.


Naquele pic-nic de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão de ló molhado em malvasia.

.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas.



.

(Cesário Verde)

14
Nov04

As sem-razões do Amor

Lumife
mini-lovers.jpg


.


Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabe sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

.

Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.

.

Eu te amo porque te amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.

.

Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor


.

(Carlos Drummond de Andrade)

08
Nov04

Canção

Lumife
mulher_campo.jpg


.

Hoje venho dizer-te que nevou


no rosto familiar que te esperava.


Não é nada, meu amor, foi um pássaro,


a casca do tempo que caiu,


uma lágrima, um barco, uma palavra.



.

Foi apenas mais um dia que passou


entre arcos e arcos de solidão;


a curva dos teus olhos que se fechou,


uma gota de orvalho, uma só gota,


secretamente morta na tua mão.


.

(Eugénio de Andrade)

05
Nov04

Saudades

Lumife
vand033.gif


.

Saudades ! Sim ... talvez ... e porque não ? ...

Se o nosso sonho foi tão alto e forte

Que bem pensara vê-lo até à morte

Deslumbrar-me de luz o coração !


.

Esquecer ! Para quê ? ... Ah ! como é vão !

Que tudo isso, Amor, nos não importe.

Se ele deixou beleza que conforte

Deve-nos ser sagrado como o pão !


.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,

Para mais doidamente me lembrar,

Mais doidamente me lembrar de ti !


.

E quem dera que fosse sempre assim :

Quanto menos quisesse recordar

Mais a saudade andasse presa a mim !

.

(Florbela Espanca)

03
Nov04

Meu Sonho

Lumife
Barco_byFlorF.jpg


.

"Pus o meu Sonho no navio

E o navio em cima do Mar

Depois abri o Mar com as mãos

Com as mãos para o meu sonho

Naufragar.

.

Minhas mãos ainda estão molhadas

Do azul, do azul das ondas

Entreabertas.

.

E a cor que escorre dos meus dedos

Colora as areias desertas.

.

O vento vem

Vindo de longe

A noite se curva de frio

.

Debaixo da água

Vai morrendo o meu sonho

Vai morrendo dentro do navio

.

Chorarei, quanto for preciso,

Para fazer com que o mar cresça

E o meu navio chegue ao fundo

E o meu sonho

Desapareça."



.

(in Amália Rodrigues, Com Que Voz...)

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